Da compra de ações a brinquedos: como a lavagem de R$ 20 milhões do PCC aconteceu em uma empresa de ônibus

O Ministério Público de São Paulo acusa sócios da empresa UpBus, que opera linhas de ônibus na zona leste de São Paulo, de ocultar R$ 20,9 milhões provenientes do Primeiro Comando da Capital (PCC), obtidos através de atividades ilícitas como tráfico de drogas. De acordo com a promotoria, a empresa foi criada com o propósito de lavar dinheiro do PCC, envolvendo distribuição desordenada de lucros, movimentações financeiras em nome de uma loja de brinquedos, e outras manobras fraudulentas.

O Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado (Gaeco) do MPSP detalhou em denúncia na Operação Fim da Linha as ações realizadas por 19 pessoas ligadas à UpBus. O principal líder do esquema, Silvio Luiz Ferreira, conhecido como Cebola e membro da cúpula do PCC, encontra-se foragido. Figuras de alto escalão do PCC, Décio Gouveia Luiz, apelidado de Décio Português, e Alexandre Salles Brito, conhecido como Buiú, também foram denunciados. Entre os acusados estão um advogado, seis diretores da empresa de transporte e nove indivíduos utilizados como “laranjas” para adquirir ações da viação e legalizar os recursos da facção.

Os sócios fundadores da UpBus, Ubiratan Antonio da Cunha, Marcelo Paschoal Cardoso e Luiz Carlos Calegari, todos denunciados na Operação Fim da Linha, abriram a empresa em 2014 com um capital social de R$ 1 milhão, mas levantamentos da Receita Federal mostraram que não tinham patrimônio para justificar esse valor. Em menos de um ano, a empresa se transformou em uma sociedade anônima de capital fechado, com a entrada de mais de 70 acionistas, parte deles também suspeitos de apresentar patrimônio sem comprovação, fazendo o capital social ultrapassar os limites legais.

Uma denúncia revelou movimentações financeiras suspeitas de R$ 20 milhões em uma empresa de transporte, envolvendo distribuição de lucros para acionistas que não condiziam com a realidade do mercado. O principal acionista da empresa recebeu quase R$ 15 milhões em dividendos, apesar de a empresa ter registrado prejuízo. Além disso, foi constatado que membros de uma facção criminosa estavam por trás da compra de ações e distribuição desordenada de dividendos.

O líder de uma organização criminosa, responsável pelo tráfico de drogas, foi apontado como peça-chave na operação da empresa de transporte. Ele foi beneficiado por um habeas corpus e está foragido há dez anos. Interceptações telefônicas mostraram que esse líder convocava reuniões para tratar do tráfico de drogas em instalações da empresa. O advogado do líder também foi investigado por suposto envolvimento em lavagem de dinheiro.

Além disso, foram identificados diversos “laranjas”, pessoas que figuravam como sócios da empresa sem terem efetivamente participação no negócio. Alguns desses “laranjas” eram parentes de membros falecidos da facção criminosa, e outros eram ligados a prepostos da organização criminosa. A investigação apontou que houve simulação de lucros e movimentação de valores provenientes de atividades ilícitas para dar uma aparência legal às transações.

Segundo o Ministério Público de São Paulo, foi identificada uma ligação entre drogas e uma organização criminosa que atua com ativos lícitos. Contudo, o contato com os envolvidos não foi possível até o momento. O espaço está aberto para manifestações e qualquer informação adicional. Fique informado sobre o que acontece em São Paulo e siga o perfil do Metrópoles SP no Instagram. Para denunciar ou sugerir uma reportagem sobre temas relacionados a São Paulo, entre em contato via WhatsApp: (11) 99467-7776.

About the author