Família ligada ao Primeiro Comando da Capital utiliza administração municipal para ocultar recursos ilícitos provenientes do tráfico de drogas

Um patriarca da família Jácome estava envolvido em contrabando de mercadorias antes da entrada do Primeiro Comando da Capital (PCC) no Rio Grande do Norte. Ele e seus quatro filhos homens estabeleceram conexões com a facção criminosa, ampliando assim suas atividades no submundo, incluindo a venda de drogas no estado potiguar.

Em decorrência dessas atividades ilegais, dois irmãos da família foram mortos em um suposto tiroteio com a Polícia Civil na Bahia. A irmã Damária cumpre pena em regime aberto por extorsão, da mesma forma que seu pai. O patriarca ainda se envolveu na política local, sendo eleito vereador e seguido por sua filha, que conseguiu assumir o controle da prefeitura por meio de ameaças, segundo investigação do Ministério Público.

A região onde a família atuava também é conhecida por abrigar Valdeci Alves dos Santos, ex-membro importante do PCC, e igrejas operadas por Geraldo dos Santos Filho, conhecido como pastor Júnior, que construiu um patrimônio considerável através de um esquema de lavagem de dinheiro para a facção criminosa.

O MPRN denunciou Damária e seu pai por extorsão ao prefeito de João Dias, indicando que a família usava a prefeitura para transações criminosas e exercia influência sobre as decisões do município. A Operação Omertà revelou um esquema de lavagem de dinheiro do tráfico de drogas, envolvendo empresas de fachada ligadas à família Jácome, que movimentaram milhões de reais de forma fracionada para não chamar a atenção das autoridades.

Um grupo de irmãos envolvidos com o tráfico de drogas foi associado ao PCC devido ao interesse da facção pela BR-116, uma via estratégica para o grupo criminoso transportar cocaína do Porto do Ceará para a Europa e África. A rodovia federal, com 4.610 quilômetros de extensão, conecta o Rio Grande do Sul ao Ceará, onde está localizado o Porto do Mucuripe, em Fortaleza.

Investigações do Ministério Público do Rio Grande do Norte revelaram que criminosos ligados ao PCC, mas não oficialmente membros da facção, facilitam o transporte das cargas pela BR-116, passando por Santa Catarina, Paraná, São Paulo, Minas Gerais, Bahia e Pernambuco até o Porto de Fortaleza. Alguns desses criminosos foram enviados para o Paraguai e Bolívia para acompanhar a logística de transporte das cargas.

De acordo com estimativas, o tráfico de cocaína para a Europa através do Porto de Santos gera mais de R$ 10 bilhões anualmente para o PCC. O promotor Lincoln Gakiya, que investiga o PCC há quase duas décadas, afirmou que a Polícia Federal apreendeu seis toneladas de cocaína no Porto de Santos em 2023, equivalente a 10% do total despachado anualmente para a Europa pelos criminosos, cerca de 60 toneladas. O Porto do Ceará, juntamente com o Porto do Rio de Janeiro, poderia render à facção pelo menos R$ 4 bilhões anualmente, segundo cálculos da Promotoria.

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