Recentemente, a Operação Fim da Linha evidenciou a infiltração do Primeiro Comando da Capital (PCC) no sistema de ônibus de São Paulo, um problema que vem se desenvolvendo há quase 25 anos. Esta conexão entre traficantes e operadores de transporte remonta à formação da rede de ônibus na maior cidade do Brasil.
Entre as décadas de 1960 e 1990, São Paulo passou por uma rápida expansão populacional sem a devida infraestrutura básica, incluindo transporte público. Os “perueiros” surgiram como uma solução, oferecendo transporte para os novos bairros que careciam de acesso adequado. Mesmo com tentativas de regularização durante a gestão de Luíza Erundina nos anos 90, a clandestinidade persistiu.
No início dos anos 2000, em Diadema, um grupo ligado ao PCC começou a extorquir dinheiro dos perueiros clandestinos. O negócio se expandiu para outras regiões da cidade, com associados da facção operando na zona leste. Mesmo com esforços da administração de Marta Suplicy, somente na criação de cooperativas de perueiros houve algum sucesso em regularizar o sistema de transporte complementar.
O Ministério Público apontou que o PCC utilizou diferentes métodos para assumir o controle de parte dessas cooperativas, inclusive o uso de ameaças. Além disso, houve falhas na filtragem de perueiros relacionados ao tráfico de drogas durante a regularização do sistema. O ex-secretário de Transportes Jilmar Tatto chegou a ser suspeito de vínculos com o crime organizado, mas não foi formalmente acusado.
Essa infiltração do PCC no sistema de transporte público de São Paulo é um problema antigo que revela a complexa intersecção entre o crime organizado e setores fundamentais da sociedade, exigindo medidas cuidadosas para combater essa realidade preocupante.
De acordo com o Ministério Público de São Paulo, membros do PCC que atuavam como traficantes e assaltantes de banco passaram a investir em cooperativas de ônibus para lavar dinheiro do crime. Eles utilizavam os ônibus tanto para realizar serviços quanto para realizar a lavagem de dinheiro proveniente do tráfico e de outras atividades criminosas. Motoristas de ônibus que deveriam ser cooperados eram, na verdade, funcionários ligados à facção criminosa.
Em uma investigação realizada em maio de 2012, foi encontrado um documento entre membros do núcleo de comando do PCC, que incluía instruções para vendas de veículos mantidos pela empresa municipal SPTrans para lavagem de dinheiro em favor da facção. Essas práticas ilegais envolviam até mesmo ordens para cometer assassinatos.
Após os protestos em 2013 contra o aumento das tarifas de ônibus, a Prefeitura de São Paulo, sob a gestão de Fernando Haddad e Jilmar Tatto, contratou uma auditoria que revelou problemas contábeis nas cooperativas de ônibus. Diante disso, recomendaram que as cooperativas se transformassem em empresas e concorressem a novas licitações, porém esse plano foi prejudicado por decisões judiciais favoráveis às viações tradicionais. Mesmo assim, as cooperativas seguiram a recomendação e se transformaram em empresas a partir de 2015.
Houve relatos de violência cometida por membros do PCC contra antigos perueiros que se opunham às mudanças nas cooperativas de ônibus. Alguns casos resultaram até em mortes, como o de Sérgio da Conceição Nobre de Oliveira. Além disso, houve casos de empresas de fachada recebendo aportes financeiros suspeitos, supostamente ligados à facção criminosa, para disputar lotes vantajosos no sistema de ônibus em São Paulo.
O Ministério Público de São Paulo continua investigando a atuação do PCC no setor de transporte coletivo da cidade e deve chamar testemunhas importantes, como o ex-secretário Jilmar Tatto e o presidente da Câmara Municipal, Milton Leite, durante o processo judicial em curso.