A transição anual traz consigo a sensação de que o tempo para. É nesse momento que percebemos a importância das pausas na vida. A pausa nos permite refletir, encarar o tempo com serenidade e lidar com o ritmo acelerado da sociedade atual.
No entanto, é preciso destacar três eventos que ocorreram recentemente. O primeiro foi o ataque à democracia marcado pelo 08/1. Tal ofensa à lei, às instituições e aos símbolos nacionais não é o início nem o fim das ameaças à democracia, tanto no Brasil quanto no mundo. A polarização pode ser saudável quando envolve o pluralismo e o diálogo, mas quando se torna conflito e propõe a eliminação do outro lado, é um perigo para a estabilidade democrática.
O segundo evento é a guerra vinda do Oriente Médio e da Rússia com a Ucrânia. É crucial lembrar que a guerra geralmente ocorre entre estados governados por ditadores. A paz está conectada à democracia.
O terceiro evento é a realização da COP28 nos Emirados Árabes Unidos, onde mais de 200 países concordaram em iniciar o fim da era dos combustíveis fósseis. A ciência foi ouvida, mas agora precisamos viabilizar esse consenso.
Ainda estamos diante de uma crise climática iminente, e é necessário reconhecer que essa crise está associada ao uso de combustíveis fósseis. É um marco importante quando até mesmo ex-vice-presidentes dos Estados Unidos, como Al Gore, concordam com essa afirmação. No entanto, devemos ter em mente que enfrentar essa crise vai muito além de apenas fazer a transição energética – é uma transformação completa do nosso modo de vida, com todas as implicações que isso acarreta.
Na última Conferência das Partes (COP), um número alarmante de 2.456 lobistas estava presente para defender os interesses econômicos dos produtores de petróleo. Esses interesses levaram a uma declaração final da COP que evitou mencionar qualquer forma de eliminação gradual dos combustíveis fósseis. Em vez disso, o compromisso foi fazer uma transição justa, ordenada e equitativa dos combustíveis fósseis para sistemas energéticos com emissões líquidas zero até 2050, de acordo com a ciência.
Naturalmente, há críticas sobre a efetividade desses acordos internacionais, pois nem sempre as palavras se traduzem em ações concretas, principalmente quando se trata do cumprimento de obrigações financeiras. A solução é continuar mobilizados e trabalhando em conjunto, unindo esforços com a COP29 no Azerbaijão e a COP30 no Pará.
Para o Brasil, as soluções econômicas baseadas na natureza representam uma oportunidade estratégica para assumir um papel de liderança ambiental e promover um desenvolvimento sustentável. O país pode se beneficiar tanto sendo uma nação benfeitora, por preservar seu patrimônio natural, quanto como uma nação beneficiária, ao utilizar recursos naturais de forma consciente.
PS. Desejo saúde e paz a todos os leitores. Farei uma pausa e estarei de volta ao trabalho no primeiro domingo de fevereiro. Gustavo Krause, ex-ministro da Fazenda.