Milhões de pessoas em todo o mundo sofrem com sobrepeso e obesidade, o que acarreta várias limitações em suas vidas. Essa condição é um fator de risco para várias doenças, como diabetes tipo 2, hipertensão, problemas cardiovasculares, dores nas articulações, nas costas e até mesmo certos tipos de câncer. Além disso, essas pessoas enfrentam constantemente o preconceito daqueles que acreditam que a perda de peso é apenas uma questão de vontade.
No entanto, especialistas afirmam que a obesidade é uma doença crônica complexa que requer uma abordagem multidisciplinar. Mudanças no estilo de vida são importantes, mas às vezes é necessário recorrer a tratamentos farmacológicos e cirúrgicos. Felizmente, agências reguladoras aprovaram recentemente o uso de novos medicamentos para diabetes e obesidade, como a semaglutida e a tirzepatida, que trazem uma nova perspectiva de qualidade de vida para essas pessoas. O medicamento liraglutida também é mencionado como uma opção eficaz.
Segundo o presidente da Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia, estudos clínicos com uma grande quantidade de participantes de diversas características mostraram a eficácia dos tratamentos para obesidade. Esses tratamentos ajudam na perda de peso, na prevenção de doenças relacionadas e na melhoria da qualidade de vida. Isso representa uma mudança significativa na forma como a obesidade é tratada atualmente.
De acordo com estimativas, quase 30% da população adulta do Brasil será afetada pela obesidade até 2030. Em relação a isso, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária aprovou o uso do medicamento Wegovy, que contém semaglutida como princípio-ativo. Essa injeção semanal mostrou redução significativa do peso corporal em estudos com adultos e também com crianças e adolescentes. Os resultados foram promissores, com uma redução média de até 17% do peso corporal em adultos após 68 semanas de uso.
Apesar da expectativa pela aprovação e da sua aprovação pela Anvisa, o Wegovy ainda não está disponível no mercado um ano depois. No entanto, as perspectivas são positivas para o futuro tratamento da obesidade.
Dois estudos recentes revelaram que o uso da tirzepatida, um medicamento desenvolvido pela farmacêutica Eli Lilly, pode levar a uma perda de peso significativa em adultos com obesidade. A tirzepatida atua ativando dois receptores de hormônios no intestino, o GLP-1 e o GIP, o que reduz o apetite e proporciona uma maior sensação de saciedade. Essa eficácia na perda de peso é considerada a maior observada até agora entre os remédios disponíveis para esse fim.
O princípio ativo da tirzepatida é usado em dois medicamentos diferentes: o Mounjaro, aprovado pela Anvisa para o tratamento da diabetes tipo 2, e o Zepbound, que recebeu aprovação da Food and Drug Administration (FDA) dos Estados Unidos para o tratamento do sobrepeso e obesidade em adultos com condições médicas relacionadas ao peso.
Além de auxiliar na perda de peso, estudos mostraram que esses tratamentos também podem prevenir problemas cardiovasculares. Por exemplo, foi constatado que o medicamento Wegovy, desenvolvido pela Novo Nordisk, reduziu em 20% o risco de eventos cardiovasculares graves em adultos com sobrepeso ou obesidade e doença cardiovascular estabelecida.
No entanto, um dos principais obstáculos para o acesso a esses medicamentos é o preço elevado. Por exemplo, uma caixa com quatro injeções de Ozempic pode ser encontrada nas farmácias por R$ 1,2 mil. Para contornar isso, a Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia (SBEM) pretende enviar um documento ao Ministério da Saúde para discutir a possibilidade de incorporação do uso desses medicamentos no Sistema Único de Saúde (SUS).
É importante ressaltar que a liraglutida, um componente presente no Saxenda, tratamento para obesidade da Novo Nordisk, perderá sua patente em 2024, o que poderá facilitar a produção de versões genéricas mais acessíveis.
Portanto, apesar dos avanços na área de medicamentos para perda de peso e prevenção de problemas cardiovasculares, ainda há desafios relacionados ao acesso a essas opções de tratamento. A discussão sobre a incorporação no SUS e a possível chegada de versões genéricas mais baratas são questões relevantes a serem consideradas para uma maior disponibilidade desses medicamentos à população.