Neste artigo, destacaremos alguns conflitos globais que não recebem tanta atenção da mídia e das organizações internacionais, além das guerras em curso na Rússia x Ucrânia e Israel x Hamas. Segundo dados coletados pelo Uppsala Conflict Data Program, houve 55 conflitos em 38 países no ano passado, sendo oito deles considerados guerras. Além disso, 22 desses conflitos foram internacionalizados, ou seja, envolvidos receberam apoio militar de nações externas.
Os tipos de conflitos mais comuns são os não-estatais, envolvendo grupos criminosos armados, mercenários e terroristas, com maior incidência na África, Ásia e Oriente Médio. Um fator preocupante é o aumento no número de mortes decorrentes desses conflitos em 2022, que ultrapassou 238 mil óbitos, tornando-se o ano mais mortal desde o genocídio em Ruanda em 1994.
A guerra entre Rússia e Ucrânia e a guerra na Etiópia contra a Frente Popular de Libertação do Tigré são os principais responsáveis por esse número alarmante de mortes. Cada um desses conflitos resultou em mais de 81,5 mil e 101 mil mortes, respectivamente.
Diante desse cenário, surge a questão sobre a falta de mediação por parte das potências mundiais e organizações internacionais para encontrar uma solução para esses conflitos. Segundo a professora de relações internacionais da ESPM, Denilde Holzhacker, a mediação envolve fatores internos, externos e a opinião pública dos países mediadores.
Além dos conflitos mais conhecidos, também existem disputas “invisíveis” que ocorrem em outros lugares do mundo, como é o caso do Haiti. Devido à insegurança crescente em Porto Príncipe, causada pelo aumento de homicídios e sequestros, assim como pela luta territorial de grupos armados, o país chegou a atingir um nível de violência comparável a países em guerra. O secretário-geral da ONU alertou sobre a crise humanitária e a grave situação de direitos humanos que o povo haitiano enfrenta.
O Haiti permanece imerso em uma crise política, de segurança e humanitária, e a situação precisa de atenção e ação por parte da comunidade internacional.
Desde o início de 2023, o Haiti tem enfrentado um aumento nos ataques armados e massacres contra a sociedade civil, levando a uma intensificação da defesa dos direitos humanos. Esses grupos armados têm cometido não apenas assassinatos, mas também estupros coletivos de mulheres e crianças. Um dos dias mais violentos ocorreu em Sous Matela, com 72 mortes, 29 estupros e centenas de casas incendiadas.
Mianmar tem enfrentado uma guerra civil desde o golpe de Estado em 2021, resultando em vidas perdidas e um grande número de pessoas fugindo para países vizinhos. O exército independente do Kachin (KIA), formado por diversas minorias étnicas, está em conflito com o regime militar. A ONU alerta que a situação em Mianmar está se agravando cada vez mais, com um terço da população, cerca de 18,6 milhões de pessoas, precisando de ajuda humanitária.
O conflito entre Nagorno-Karabakh e o Azerbaijão começou quase um século atrás, quando o Azerbaijão anexou a região contra a vontade da população local de maioria armênia. Desde então, ocorreram várias guerras e conflitos entre as partes envolvidas. Recentemente, em 2023, a República de Nagorno-Karabakh foi derrotada pelo Azerbaijão, resultando em um êxodo em massa dos armênios étnicos que viviam na região.
A Etiópia tem enfrentado uma guerra civil no Tigré, que se tornou o conflito mais mortal de 2022, resultando em mais de 100 mil vidas perdidas. Essa guerra tem causado um impacto significativo na região e requer uma atenção urgente para a defesa dos direitos humanos.
A Etiópia passou por uma guerra brutal e pouco conhecida contra o movimento de resistência TPLF. Houve acusações de crimes de guerra, violações dos direitos humanos e limpeza étnica contra os tigrínios, um grupo minoritário no país. O conflito terminou em novembro de 2022, com a região do Tigré sendo entregue ao governo etíope. Essa guerra é considerada a segunda mais sangrenta do século 21, perdendo apenas para a guerra civil no Congo.
Desde 1996, o Congo tem enfrentado um conflito no leste do país que resultou em quase seis milhões de mortes. A violência na região está relacionada a disputas territoriais, recursos naturais, tensões políticas e envolvimento de milícias. A situação no Congo é muito grave e tem afetado especialmente as crianças refugiadas.
O papa Francisco, durante uma visita à África, criticou o “colonialismo econômico” e pediu para que as mãos sejam retiradas do Congo e de toda a África. Ele destacou que o continente já sofreu várias formas de exploração e que é uma tragédia o fato de que a ganância tenha manchado os diamantes e outros recursos africanos com sangue.
Além disso, diversos países na África, como Burkina Faso, Mali, Guiné, Sudão e Níger, têm enfrentado golpes militares nos últimos anos. Até mesmo o Gabão, que não está localizado na faixa do Sahel, passou por uma mudança no poder. Essa instabilidade política traz ainda mais desafios para a região.
No Iêmen, a população sofre com uma guerra civil que já se arrasta há nove anos, causando uma crise humanitária com milhares de mortos e pessoas deslocadas. A insegurança alimentar também é uma grande preocupação nesse país do Oriente Médio.
Esses conflitos mostram a urgência de buscar soluções para promover a paz e a estabilidade na África e em outras regiões afetadas por guerras e violências.
No Iêmen, ocorreram revoltas contra o governo sunita, resultando na tomada da capital, Sanaa, pelos rebeldes. Eles buscavam redução do preço de combustíveis e a formação de um novo governo. Embora os combates tenham diminuído em 2023, os ataques continuam. No entanto, o diálogo entre os rebeldes houthis e a Arábia Saudita traz esperança de um cessar-fogo permanente. Infelizmente, o conflito teve um grande impacto humanitário, com 377 mil mortes, sendo 60% causadas indiretamente pela insegurança alimentar e pela falta de acesso a cuidados médicos. Mais de 11 milhões de crianças no país necessitam de ajuda humanitária.
A Síria também vivenciou uma guerra marcante. O conflito civil armado começou em 2011, após o governo reprimir violentamente manifestações, incluindo o uso de armas químicas. O conflito envolve diferentes facções, como os apoiadores do presidente Assad, grupos de oposição, forças curdas e o Estado Islâmico. Estima-se que pelo menos 350 mil pessoas foram mortas e 6,6 milhões foram deslocadas devido a esse conflito.
As tropas dos Estados Unidos também estão presentes na Síria. A situação é crítica para os civis, como no caso de uma jovem Yazidi que conheci em um campo de refugiados na região curda do Iraque. Ela perdeu seis de seus primos em um ataque do Estado Islâmico, mas ainda se sente afortunada por estar viva e ter a oportunidade de estudar.
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