O reajuste das mensalidades de cursos particulares financiados pelo Fundo de Financiamento Estudantil (Fies) tem causado dificuldades financeiras para os estudantes e até mesmo levado à desistência da graduação. O Ministério da Educação admitiu que não tem previsão para apresentar novas regras do programa, o que agrava o problema. A crise começou em 2018, quando uma portaria do governo estabeleceu um teto para o auxílio do Estado no pagamento das mensalidades.
O movimento estudantil chamado Fies Sem Teto tem pressionado o MEC por mudanças, alegando que os reajustes das universidades privadas estão acima da inflação, tornando a coparticipação imprevisível. Isso é especialmente problemático para cursos de medicina, em que o valor que o aluno deve pagar supera as simulações feitas na inscrição do programa. Estudantes como Estéfane Nascimento, que tem uma renda familiar de cerca de R$ 1,5 mil, estão sendo afetados diretamente. Ela precisou trancar o curso depois que o valor da coparticipação ultrapassou R$ 2 mil mensais.
O movimento Fies Sem Teto exige a volta do financiamento integral para todos os alunos ou a implementação de medidas para controlar o valor da coparticipação. Eles também pedem um plano para renegociar as dívidas dos estudantes que abandonaram os cursos devido aos altos valores. O ministro da Educação, Camilo Santana, aumentou o teto do Fies para o curso de medicina em junho do ano passado, mas os reajustes nas mensalidades tornaram essa medida ineficaz.
O Ministério da Educação criou um grupo de trabalho para reformular o Fies, mas ainda não apresentou um esboço das propostas. Não há informações sobre a volta do financiamento integral, a nova política de coparticipação ou a instituição de um período de carência para o pagamento das dívidas. O MEC declarou que as discussões para a reestruturação do Fies ainda estão em andamento e que o novo programa será anunciado oportunamente.
As controvérsias em relação ao programa de financiamento estudantil Fies devem levar tempo para serem resolvidas, de acordo com a professora Catarina de Almeida Santos, representante do movimento estudantil Fies Sem Teto. Ela acredita que o grande volume de recursos direcionados às faculdades privadas é um obstáculo para a resolução dos problemas do programa. Catarina argumenta que, se o investimento fosse voltado para o aumento de vagas nas universidades públicas, o benefício seria ainda maior. Ela também ressalta a importância do governo lidar com a demanda de estudantes de famílias carentes que não conseguem entrar nas universidades públicas. No entanto, acredita que o dinheiro investido no Fies poderia ser mais efetivo se fosse destinado à expansão das instituições públicas, beneficiando os estudantes de baixa renda, que não seriam acumulados com dívidas ao final do curso.