Carla, uma jornalista apaixonada pela dança desde sua infância, teve sua vida mudada aos 17 anos ao ficar tetraplégica devido a uma lesão na coluna cervical. No entanto, essa paixão pelo universo dos movimentos artísticos superou suas limitações, permitindo-a encontrar uma nova forma de dançar sobre a cadeira de rodas.
Após perder o prazer de dançar por um tempo, Carla descobriu que poderia retomá-lo adaptando os movimentos ao seu estado físico. Essa descoberta não só trouxe de volta sua paixão pela dança, mas também a oportunidade de inspirar outras pessoas que enfrentam desafios semelhantes.
Carla conheceu uma cadeirante de Los Angeles que dominava a dança de rua sobre rodas, o que a motivou a se matricular em uma academia e adaptar os movimentos para sua condição física. Ela sugeriu ao professor e à dona da academia a criação de uma turma de cadeirantes, para que outras pessoas pudessem experimentar a mesma alegria.
O projeto, chamado Street Cadeirante, começou como aulas entre amigos, mas se expandiu ao longo dos anos. Atualmente, o grupo conta com nove bailarinos de Brasília e realiza apresentações em diversos eventos pelo país, incluindo o Carnaval do Parque, o Festival Na Praia e o Teleton.
O objetivo do Street Cadeirante é criar coreografias exclusivas para cadeirantes, desafiando suas limitações físicas, mas também buscando uma estética bonita e impressionante. Carla enfatiza que o objetivo não é apenas chamar a atenção para suas limitações, mas sim mostrar o talento e o espetáculo de dança que eles são capazes de realizar.
Durante a pandemia de Covid-19, o grupo criou o Street Cadeirante Virtual, oferecendo aulas gratuitas online através do Zoom todos os sábados. Essa iniciativa permitiu que mantivessem a conexão e a prática da dança mesmo em tempos difíceis.
Um grupo de dança em Brasília está quebrando barreiras e promovendo inclusão para pessoas com deficiências físicas. Fundada em 2018, a Cia de Dança Street Cadeirante já conta com 130 inscritos e uma média de 30 integrantes por aula. Além de oferecer um ambiente onde todos vivem a mesma realidade, a companhia também proporciona amizade, atividade física, trabalho emocional e inclusão.
Carla Maia, fundadora do grupo, destaca que a dança não é apenas uma forma de expressão artística, mas também empodera os integrantes. A participação de profissionais experientes como coreógrafos trouxe novas perspectivas e ajudou a quebrar estigmas em relação aos dançarinos cadeirantes. O grupo já foi coreografado por profissionais que trabalharam com artistas famosos como Anitta, Léo Santana, Shakira e Maluma.
A Cia de Dança Street Cadeirante se apresentará no Bloco Portadores da Alegria, no Parque da Cidade, nesta terça-feira. O bloco, que existe desde 2015, promove um carnaval acessível e seguro para pessoas com deficiência aproveitarem a data festiva.
O grupo também ganhou destaque nas redes sociais recentemente, ao gravar um vídeo dançando a música “Macetando” da Ivete Sangalo. O vídeo viralizou e foi inclusive repostado pela própria cantora.
Um fato interessante sobre a Cia de Dança Street Cadeirante é que, entre os oito integrantes, existe apenas um homem, Estevão Carvalho Lopes. Ele ficou paraplégico em 2012 após ser vítima de violência. Desde então, sua vida mudou e ele se envolveu tanto no esporte adaptado quanto na dança. Estevão também é atleta de remo e vela adaptada, além de se dedicar à dança como uma forma de transformação para si mesmo e para os outros.
O grupo continua a crescer e espalhar sua mensagem de inclusão e superação por meio da dança, proporcionando oportunidades e quebrando barreiras para pessoas com deficiências físicas em todo o país.
Leonice Friedrich, uma mulher de 35 anos que ficou paraplégica após um acidente de carro, encontrou na dança uma forma de superar seus medos e se redescobrir. Ela sempre gostou de dançar, mas após a lesão, sentia medo e desconforto em se exibir. No entanto, ao entrar para o grupo Street Cadeirante, ela conseguiu preencher essa dor e lidar melhor com sua deficiência.
Para Leonice, a dança é uma maneira do cadeirante ser visto para além de sua deficiência. Ela acredita que dançar, praticar esportes, trabalhar e ser mãe são atividades que demonstram que os cadeirantes podem fazer tudo, desafiando a visão limitada de que são incapazes. A dança permitiu que ela se mostrasse ao mundo e superasse seus traumas.
Outra integrante do grupo, Ana Claudia Fiche, de 54 anos, conta que a dança aquece sua alma e lhe dá prazer. Ela também ficou paraplégica após um acidente de carro, mas descobriu na dança uma nova forma de se expressar. Para ela, projetos voltados para pessoas com deficiência são essenciais para resgatar a autoestima e a vontade de viver.
Ambas as mulheres encontraram na dança uma forma de superação e de se redescobrir após suas lesões. Elas afirmam que é importante falar para as pessoas que oportunidades existem e que é possível viver plenamente mesmo após um acidente. A dança, além de ser uma atividade prazerosa, permite que os cadeirantes sejam vistos e reconhecidos por suas capacidades além da deficiência.