Merquior: Retrato de um Intelectual Completo (por Gustavo Krause)

Um dos grandes pensadores brasileiros pós-modernistas, José Guilherme Merquior, é lembrado com profunda admiração. Com sua mente aguçada e sábia, construiu uma obra formidável que transcende gerações, encantando seus leitores com erudição e fina ironia. Sua inédita monografia sobre estruturalismo demonstrou sua genialidade desde jovem, sendo reconhecido por grandes nomes como Lévi-Strauss.

Mesmo sendo rotulado por alguns como apenas um talentoso polemista liberal, Merquior ia além de rótulos e ideologias prontas. Para ele, o liberalismo era mais que uma simples corrente política, mas sim um estilo de vida. Sua vasta produção intelectual abarcou áreas como crítica literária, sociologia, política e cultura, sempre pautada pela consistência e força de argumentação.

A impressionante erudição de Merquior surpreendeu até mesmo seus críticos, sendo elogiado por sua capacidade única de metabolizar ideias. Sua abordagem firme em relação ao marxismo, psicanálise e arte de vanguarda refletia sua crença no racionalismo e na modernidade, apesar de enfrentar debates acalorados e injustos rótulos de reacionário.

Em um tributo a Merquior, o diplomata e escritor Paulo Roberto de Almeida destaca a importância e a sofisticação do pensamento do autor, revelando a diversidade de seu legado e a amplitude de sua influência. Assim, José Guilherme Merquior permanece vivo não apenas em sua obra, mas também no impacto duradouro que deixou no debate de ideias e na construção do pensamento brasileiro.

Na cena política do Brasil, Merquior trouxe uma abordagem filosófica abrangente ao liberalismo. Ele articulou os princípios fundamentais dessa concepção: a independência do pensamento e a objetividade do conhecimento. Autodenominado como um “anarquista do espírito”, Merquior destacou a sociedade liberal como caracterizada pela “lei governando e a anarquia de ideias”. Em suas próprias palavras, o liberalismo moderno reconhece a complexidade social e não possui uma visão simplista como o liberalismo clássico.

Em uma entrevista de 1986, Merquior se definiu como “liberal na economia, social-democrata na política e anarquista na cultura”, enfatizando sua crença na independência do pensamento. Ele reconheceu a diversidade e o pluralismo dos fenômenos sociais, rejeitando a ideia de dogmas e certezas absolutas. O filósofo argumentou que a complexidade da sociedade não se encaixa em moldes rígidos pré-estabelecidos pela mente humana.

Para responder às críticas dos neoliberais e oponentes do liberalismo, Merquior afirmou que nenhum liberal autêntico defende que o mercado pode resolver todos os problemas sociais. Ele defendeu a importância de um Estado de bem-estar para proteger e garantir direitos sociais, bem como um Estado atuante para promover o desenvolvimento econômico e resolver questões específicas.

Gustavo Krause, ex-ministro da Economia, compartilhou ideias semelhantes e fez parte desse contexto político e intelectual no Brasil.

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