A incapacidade sempre foi uma característica protegida e é fácil de explicar porquê. Aqueles que não são capazes não têm culpa de serem assim. Muitas vezes, até detestam sua própria incapacidade. Ser incapaz é uma desvantagem. Prejudica. Causa mais esforço, atrapalha, gera atrasos e mal-entendidos. A única vantagem de ser incapaz é o fato de poder irritar os mais competentes com muito pouco esforço. Como é socialmente inapropriado chamar as pessoas de incapazes – mesmo aquelas que não são – a incapacidade se torna um problema invisível. Mesmo sendo a principal causa – alguns diriam a única – de tudo que dá errado, sempre se atribui a culpa a qualquer outro fator. Em termos teóricos, é possível reformular o discurso público para utilizar termos culturalmente aceitos para descrever a incapacidade. Palavras como incompetência, falta de habilidade, estreiteza de mente, ingenuidade, simplicidade, e uma alegria de viver inabalável. No entanto, é um bom sinal aceitar a incapacidade e levar isso em consideração. Quando alguém justifica as ações de alguém incapaz dizendo “não foi de propósito”, a resposta justa e saudável é aceitar essa afirmação. O inferno não está cheio de boas intenções. Na verdade, não existe uma única boa intenção no inferno. O inferno está lotado de bons resultados. Se este fosse um ensaio, seria intitulado “Intenção, Resultado e Mérito na Cultura Local”. Felizmente, isso pode se tornar ainda mais complexo, mas não nesse momento. Ao longo da vida – especialmente para aqueles que ensinam -, observamos que grandes esforços frequentemente não se traduzem em grandes resultados, que a qualidade humana é completamente independente do talento e da inteligência, e que as intenções são um dos poucos aspectos que podemos avaliar com generosidade. Cada vez mais, é possível que prefiramos um resultado ruim, conquistado com boas intenções, a um resultado bom, conquistado com más intenções. A incapacidade também precisa ser repensada: muitas vezes, os incapazes não são todos boas pessoas.