PCC usa rodovia BR-116 como rota alternativa para enviar drogas à Europa

Uma facção criminosa brasileira, o Primeiro Comando da Capital (PCC), expandiu suas operações de tráfico internacional de cocaína para a Europa e África. Para isso, a organização precisou diversificar seus locais de despacho da droga e abrir mão de certos territórios locais.

Com uma presença nacional, o PCC permitiu que grupos rivais assumissem o controle do tráfico local gradualmente, focando em manter áreas estratégicas como no Rio Grande do Norte por conta da BR-116, uma rodovia importante que conecta estados do Sul ao Nordeste, permitindo acesso ao Porto de Mucuripe, utilizado como rota alternativa para exportação quando enfrentam dificuldades em operar no Porto de Santos, em São Paulo.

A organização passou a despachar a cocaína majoritariamente por via marítima, escondendo as cargas em contêineres ou nos cascos de navios. Cerca de 60% de toda a cocaína enviada pelo Brasil através do mar tem o Porto de Santos como ponto de partida, devido à demanda por grandes volumes de entorpecentes nos destinos internacionais.

De acordo com o Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado (Gaeco) do Ministério Público de São Paulo, o Primeiro Comando da Capital (PCC) passou a operar suas atividades de exportação também pelos portos do Rio de Janeiro e de Fortaleza, como estratégia para dificultar a atuação da polícia, do Ministério Público e da Receita Federal.

O Ministério Público do Rio Grande do Norte (MPRN) destaca que a região oeste do estado é controlada pelo PCC devido à rota alternativa pela BR-116, facilitando a conexão da facção paulista com áreas internacionais através do estado nordestino desde cerca de 2016.

A facção não se importa em dividir espaço com concorrentes no RN, como o Sindicato do Crime, mantendo seu território por meio de associados e dominando o mercado de maneira mais indireta.

A investigação do MPRN revela que criminosos vinculados ao PCC, mesmo não sendo membros efetivos da facção, colaboram para o transporte de drogas pela região potiguar, com cargas seguindo pela BR-116 até chegar ao Porto de Fortaleza. Alguns desses criminosos foram enviados para Paraguai e Bolívia para entender a logística de transporte de drogas da facção.

O tráfico de cocaína para a Europa no Porto de Santos, conforme estimativa do MPSP, gera uma receita anual superior a R$ 10 bilhões apenas para o PCC. O promotor paulista Lincoln Gakiya, que investiga o PCC há quase 20 anos, indica que a apreensão de seis toneladas de cocaína pela Polícia Federal em 2023 é apenas 10% do que os criminosos despacham anualmente para a Europa, totalizando aproximadamente 60 toneladas.

Por fim, na cidade potiguar de Jardim de Piranhas, terra natal de Valdeci Alves dos Santos, conhecido como Colorido, que já foi um dos líderes do PCC e atualmente está preso, a facção mantém sua presença estratégica. Colorido, que já foi o número 2 do PCC nas ruas, foi recentemente alvo de uma ameaça de morte por Marcola, líder da facção.

Nos últimos tempos, tem havido um conflito interno de grandes proporções na liderança do PCC. Nesse mesmo contexto, encontram-se as igrejas frequentadas por Geraldo dos Santos Filho, conhecido como pastor Júnior, parente de um membro do PCC. Conforme relatos, ele construiu um patrimônio que ultrapassa os R$ 6 milhões, utilizando um esquema suspeito de lavagem de dinheiro para beneficiar o PCC, incluindo a aquisição de locais de culto religioso.

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